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O Legado das Fortificações da Madeira: Uma Perspetiva Histórica

O arquipélago da Madeira, com a sua história rica e importância estratégica, é desde há muito um objeto de fascínio para historiadores e visitantes. A história da sua descoberta e subsequente fortificação é um conto de aventura, engenharia e resiliência.

Descoberta e resolução antecipada de litígios

Em 1419, os intrépidos exploradores João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira encontraram refúgio na extensão ocidental de uma baía, onde se situam dois pequenos ilhéus. Foi no ilhéu mais pequeno que puseram os pés pela primeira vez, erguendo um abrigo provisório e escavando degraus na rocha – uma prova do engenho humano que ainda hoje é visível. Este ilhéu, que alguns acreditam ser a fortificação mais antiga do arquipélago, ainda tem as marcas dos esforços iniciais de amarração dos exploradores.

Funchal: O centro económico do arquipélago

Com o enraizamento da colonização, o Funchal emergiu como o principal porto do arquipélago, tornando-se um centro movimentado para o comércio do açúcar nos séculos XV a XVII, do vinho no século XVIII e do carvão nos séculos XIX e XX. As fortificações temporárias iniciais evoluíram para estruturas permanentes, expandindo-se e reforçando-se ao longo do tempo para proteger a linha de vida económica da Madeira.

Forte de São José: Um Símbolo de Defesa Marítima

Em meados do século XVIII, registaram-se desenvolvimentos significativos com a construção do Forte de São José, parte integrante das obras portuárias do Funchal. Sob a direção do engenheiro Francesco Tosi Colombina, e possivelmente com a ajuda do Capitão de Engenheiros Domingos Rodrigues Moniz, a fortificação foi erguida ao lado de um muro de amarração que se estendia até às falésias abaixo do Forte da Penha de França.

Um decreto real de 1776 levou à ligação do ilhéu à ilha principal, um feito que mais tarde foi batizado em honra do monarca reinante. Esta ligação, conhecida como Caminho Real, é um dos caminhos mais antigos preservados na ilha e permanece acessível aos visitantes.

Ocupação britânica e desenvolvimentos posteriores

A Guerra Peninsular trouxe tropas britânicas para a Madeira e, de 1801 a 1807, o Forte de São José serviu como quartel e, posteriormente, como prisão. Gravuras marítimas desta época retratam a bandeira britânica hasteada no topo do forte.

Em 1888, a decisão governamental de alargar o porto ao ilhéu maior relegou o Forte de São José para segundo plano. Foi também nesta época que os esgotos da cidade passaram a ser canalizados para o ilhéu, pormenor histórico que se reflecte na denominação “Pedras do Loo”, presente em gravuras antigas.

A Era Industrial do Forte

Em 7 de março de 1889, um contrato de arrendamento com a empresa Blandy Brother’s marcou um novo capítulo para o forte, transformando o seu aterro num local para uma grua a vapor utilizada para carregar e descarregar mercadorias. Embora a maquinaria se tenha perdido para o mar, o legado do forte como fortaleza comercial e defensiva perdura.

As fortalezas da Madeira, desde as suas origens humildes até aos seus papéis fundamentais no comércio e no conflito, são monumentos ao passado histórico da ilha e ao seu espírito duradouro. Os visitantes da Madeira ainda podem percorrer os caminhos esculpidos pela história, explorando os vestígios de uma época em que estas fortificações eram os guardiões de uma ilha na encruzilhada do velho e do novo mundo.